Professor, está certo isto? “Presidente, não nomeie para a Educação qualquer um. Escolha alguém que lhe apoie.”
O emprego dos pronomes pessoais é um dos maiores problemas da nossa língua. No caso, o pronome deve ser trazido para antes do verbo devido ao “que” anterior, isto é, caso de próclise. Mas a dúvida chega quando é hora de decidir entre o “o” e o “lhe”.
A escolha depende da regência verbal: se o verbo não pedir preposição, usa-se “o” (ou suas flexões, “a”, “os” e “as”); se, diferentemente, pedir preposição, normalmente “a” ou “para”, deve se preferir o “lhe” (e sua flexão “lhes”).
Veja que falei em “pedir preposição” e não “haver preposição”. Aí é que muita gente erra!
Perceba que há uma tendência em substituir o pronome pessoal oblíquo átono (seja “o” ou “lhe”), pelo tônico “ele”, o que fatalmente leva ao uso da preposição, uma vez que todos os pronomes pessoais oblíquos tônicos, tenham eles a função de objeto direto ou indireto, adjunto adnominal ou complemento nominal, sempre terão uma preposição.
Assim, imagina-se que seria: “Escolha alguém que apoie ao senhor”, mas poderia ser “Escolha alguém que apoie o senhor.” Isto é: “alguém que apoie a ele”.
Pronto, ocorreu a ilusão do acerto, e acaba de se achar que deve ser “lhe”. Por que ilusão? Veja lá!
O melhor é proceder da seguinte forma: imagina-se um complemento fixo, por exemplo, “o aluno”, “o livro”, para o verbo ou nome em questão. Se for possível usar “o aluno” ou “o livro”, é hora de utilizar “o, a, os e as” (dependendo, é claro, do gênero e número). Veja os exemplos:
a) Nós vimos o artista naquela peça. => Nós vimos “o aluno”; logo, Nós o vimos naquela peça.
b) A sociedade, ontem, aplaudiu o governo estadual. => A sociedade aplaudiu “o aluno”; logo, A sociedade, ontem, aplaudiu-o.
c) Não conhecemos o verdadeiro motivo da acusação. => Não conhecemos “o livro”; logo, Não o conhecemos
d) O rapaz encontrou suas irmãs na praia. => O rapaz encontrou “o aluno”; logo, O rapaz encontrou-as na praia.
Veja que se evitou substituir os termos complementares por “a ele e flexões”, pois isso nos levaria a usos inadequados do pronome átono. O fato é que nenhum dos exemplos, quando utilizamos “o aluno” ou “o livro”, precisou de preposição.
Não sendo possíveis essas substituições, só então experimente usar as variantes com preposição, “ao aluno”, “ao livro”, “do aluno”, “do livro”, “no aluno”, “no livro”, “para o aluno”, “para o livro” etc. Então, já sabemos que é hora de empregar “lhe e lhes”.
e) Entreguei a nota ao interessado. => Entreguei a nota “o aluno”; é... não deu: seria Entreguei a nota “ao aluno”; então, deve ser: Entreguei-lhe a nota.
f) Avisei a todos os funcionários seu dia da folga. => Avisei “o aluno” seu dia da folga; é... não deu: seria: Avisei-lhes seu dia da folga.
g) Proibiu à faculdade realizar novo vestibular. => Proibiu “o aluno” realizar novo vestibular; é... não deu: seria: Proibiu-lhe realizar novo vestibular.
h) O jovem obedeceu ao professor que escreveu os livros. => O jovem obedeceu “o aluno”; é... não deu: seria: O jovem obedeceu-lhe.
É óbvio que, nas três últimas, teríamos de seguir a regência padrão: “avisar alguma coisa a alguém”, “obedecer a alguma coisa” e “proibir alguma coisa a alguém”.
Tenha mais cuidado ainda com certos verbos que não admitem o “lhe e flexão” e, assim, exigem a forma tônica “a ele e flexões”.
i) Nós assistimos ao jogo em meio à torcida adversária. => Embora haja preposição, não é possível o uso do “lhe”; deve ser Nós assistimos a ele em meio à torcida adversária.
j) A mãe da moça se referiu ao rapaz com entusiasmo. => Embora haja preposição, não é possível o uso do “lhe”; deve ser A mãe da moça se referiu a ele com entusiasmo.
A frase da pergunta deveria ser assim: “Presidente, não nomeie para a Educação qualquer um. Escolha alguém que o apoie.”