Fantasmas da Análise sintática 5) Coordenação e subordinação ao mesmo tempo

Pergunta de uma aluna:

No período “O menino sabia que a oportunidade chegaria, mas era difícil aguardá-la”, eu entendo bem que a oração (1) é a oração principal da segunda oração, mas tenho dificuldade de entender que a terceira oração é, além de coordenada assindética à segunda, subordinada à oração (1). Para mim, ela só teria uma relação de coordenação com a segunda.

É uma dúvida comum, que acontece por compreensão errada da estrutura do período, o que ocorre com mais frequência com alunos que aprenderam mal a análise do período.

Comecemos lembrando como se faz a divisão:

1)      Sublinhe os verbos!

“O menino sabia que a oportunidade chegaria, mas era difícil aguardá-la.”

2)      Há 4 verbos, logo 4 orações. Marque, agora, os conectivos ou palavras de ligação!

“O menino sabia que a oportunidade chegariamas era difícil aguardá-la.”

3)      Dois! Parece faltar um! Coloque colchetes de abertura no início do período e antes dos conectivos, início das orações, e numere-as!

[(1) “O menino sabia [(2) que a oportunidade chegaria, [(3) mas era difícil aguardá-la.”

4)      Comece a fazer uso dos colchetes de fechamento, sabendo que cada verbo tem de ficar em uma oração! Veja que, no final, há duas orações, embora não haja conectivo. Vendo que “difícil” está ligado ao verbo “ser”, tem de ocorrer fechamento e abertura antes de “aguardá-la”.  

[(1) “O menino sabia] [(2) que a oportunidade chegaria],[(3) mas era difícil] [(4) aguardá-la.”]

5)      Como o último verbo está no infinitivo, não é necessária a palavra de ligação. Passemos a ver, agora, a estrutura sintática. A primeira oração tem um sujeito (“O menino”) e um verbo transitivo direto (“sabia”; logo, precisa-se de objeto direto. “Sabia o quê?

6)      Raciocine! “Sabia duas coisas, “que a oportunidade chegaria e que era difícil aguardá-la.” Troquei o “mas” por “e que”, para lhes mostrar que a oração 3, também, completa o verbo TD “sabia”. Usando o artifício de substituir as orações 2 e 3 por “isso”, ficaria assim:

“O menino sabia isso (que a oportunidade chegaria) e isso (que era difícil aguardá-la.”)

7)      Veja de outra forma. Se tirássemos a segunda, a terceira completaria, também, o verbo “saber”:  

(1)   O menino sabia/ (2) que a oportunidade chegaria... 

Tirando-a:

(2)   O menino sabia/  (3) que era difícil /(4) aguardá-la.

 8)      Tirei o “mas” porque ele só serve à coordenação. Incluí o “que” porque, no texto original, ele não aparecera, para que não houvesse a repetição. São noções e propriedades semânticas, que acabam “atrapalhando” a análise sintática. 

9)      As orações 2 e 3 servem como objetos diretos do verbo “saber”. Foi usado o “mas” a fim de caracterizá-las como opostas.

10)  A última relação sintática acontece na situação da oração 4, uma oração reduzida, porque tem seu verbo no infinitivo e não tem palavra de ligação,  que é o sujeito da 3. Veja que a terceira tem um verbo de ligação e um predicativo, o adjetivo “difícil”; por isso, ela é o seu sujeito.   

11)  Fica assim a classificação das orações:

1)      Principal da 2 e da 3 (porque a 2 e a 3 lhe servem como objetos diretos; mas não da 4, já que a 4 não tem relação direta com ela, ou seja, não é função dela)

2)      Subordinada substantiva objetiva direta à 1 (porque ela é objeto direto de “sabia”) e coordenada assindética à 3 (por ter a mesma principal e a mesma função da 3 e por não ter qualquer conjunção coordenativa)

3)      Subordinada substantiva objetiva direta à 1 (porque ela também é objeto direto de “sabia”), coordenada sindética adversativa à 2 (por ter a mesma principal e a mesma função da 2; além de ter a conjunção coordenativa adversativa “mas”) e principal da 4 (por ter a 4 como seu sujeito).

4)      Subordinada substantiva subjetiva à 3 (por ser o sujeito de “é difícil”)