Fantasmas da Análise sintática 9) A preposição "para" iniciando orações

Pergunta de uma aluna:

Olá, professor! Estava lendo seu último post, e ele veio ao encontro de um questionamento que fiz nesta semana, a respeito de preposições e conjunções. É que me incomoda um pouco o "para" não ser considerado também conjunção, embora ele apenas introduza orações reduzidas. Mas isso parece contrariar um pouco a explicação de que preposições unem apenas palavras, e não orações.

Na verdade, é um questionamento que diz respeito à preposição “para”, que, ao iniciar oração, funcionaria como conjunção.

  Há, realmente, um caso em que o “para” inicia oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo, aliás, uma construção clássica e muito comum na nossa língua.

 1)      “Eles utilizaram a rede social para atingir leitores específicos.”

  O que ocorre, exatamente, é que a preposição “para” liga palavras, ou seja, estabelece ligação entre o verbo “atingir”, que está no infinitivo, e o verbo “utilizar”, criando uma subordinação da segunda oração em relação à primeira.

  Acontecem casos em que o “para” (insisto: uma preposição!) aparece antes da conjunção subordinativa final, em orações com a mesma noção semântica.

 2)      “Eles utilizaram a rede social para que atingissem leitores específicos.”

  Veja que, nesse exemplo, existe o “para”, tornando clara a noção semântica de finalidade, e a conjunção “que”, funcionando como o conectivo oracional. Em termos morfológicos, consideramos a locução “para que” como locução conjuntiva.

  Existem, também, exemplos em que o “para” inicia orações substantivas, sendo uma preposição regida pelo verbo ou nome anterior.

 3)      “Os professores entregaram os prêmios para quem mais os merecia.”

4)      “Os exemplos foram úteis para quantos necessitavam das explicações.”

  Nos casos acima, temos duas orações subordinadas substantivas. A do exemplo 3 é objetiva indireta, sendo a preposição regida pelo verbo anterior, “entregar” (transitivo direto e indireto). No outro, quem rege a preposição “para” é o nome “úteis” (predicativo da primeira oração); por isso, a oração é completiva nominal. Em ambos os casos, o “para” é seguido de pronomes substantivos indefinidos, que exercem a função de sujeito dos verbos que vêm depois.

  O “para” pode aparecer, ainda, antes de pronomes relativos que exerçam uma função introduzida pela própria preposição.

 5)      “As explicações para que estávamos atentos eram surpreendentes.”

6)      “Ficou bem surpresa a jovem para quem demos a flor.”

  Ainda são dois casos em que a preposição é regida por um nome e por um verbo. Em 5, é o adjetivo “atentos” que rege o “para”; no 6, a palavra regente é o verbo transitivo direto e indireto “dar”. Os termos precedidos pelo “para” com os pronomes relativos “que” e “quem” são, respectivamente, complemento nominal e objeto indireto.

  Assim, vemos que as ocorrências do “para” são bem explicadas pela nossa morfossintaxe.