1) “Nós sentimos falta de nossos amigos que moram no exterior.”
Para corrigir, adicionei uma vírgula antes do “que”: “Nós sentimos falta de nossos amigos, que moram no exterior.” Pode ser?
Esse é um dos casos mais interessantes de uso da vírgula na nossa língua. A existência dela muda totalmente a informação. Na frase inicial, nós sentimos falta de alguns amigos nossos que residem no exterior, mas temos outros amigos, que estão no mesmo país em que nós estamos. Trata-se de uma restrição.
Na que você escreveu, nós também sentimos falta de nossos amigos, mas todos moram no exterior. Agora, é uma explicação.
Veja, nos exemplos abaixo, como a diferença fica mais clara:
a) “Minha motocicleta que é antiga está na oficina.” (tenho mais de uma moto, e a antiga está na oficina; é uma restrição)
b) “Minha motocicleta, que é antiga, está na oficina.” (só tenho uma moto, que é antiga e está na oficina; é uma explicação)
c) O romancista que escreveu “Quincas Borba” é o meu autor preferido.” (dentre muitos romancistas, apenas um escreveu essa obra; clara restrição)
d) “Machado de Assis, que é um grande escritor, precisa ser mais conhecido.” (Machado de Assis é um só; assim, é uma explicação)
2) “O médico perguntou se eu estava bem, tirando a espátula da minha mão, começando a remover a tinta preta que tinha ficado no meu rosto.” Professor, essa pontuação é adequada?
Não é a melhor maneira de escrever esse período!
Veja que há dois verbos no gerúndio: “tirando” e “começando”; assim, seria mais conveniente ligá-los por um “e”. Se houvesse um terceiro verbo no gerúndio, seria normal separar os dois primeiros usando a vírgula; então deixaríamos para usar o “e” antes do último.
Ficaria bem melhor se o período estivesse escrito da seguinte forma: “O médico perguntou se eu estava bem, tirando a espátula da minha mão e começando a remover a tinta preta que tinha ficado no meu rosto.”
3) Mestre, está correto o uso destas duas vírgulas? “Foram muitos relacionamentos falidos, por isso, ela esperava ter encontrado a pessoa certa.”
Não é a melhor forma. Repare que a expressão “por isso” ficou entre vírgulas. Sempre que se usar a vírgula posterior, cuja intenção é destacar a ideia conclusiva, deve-se usar um ponto e vírgula para marcar a separação maior, que é a que ocorre entre as orações. Assim, nesses casos, o melhor é trocar a primeira vírgula por ponto e vírgula: “Foram muitos relacionamentos falidos; por isso, ela esperava ter encontrado a pessoa certa.”
a) “A jovem teve inúmeras decepções, portanto estava com medo de se apaixonar novamente.” (forma correta: vírgula separando as orações)
b) “A jovem teve inúmeras decepções; portanto, estava com medo de se apaixonar novamente.” (forma correta: ponto e vírgula separando as orações e vírgula destacando a conjunção)
c) “A jovem teve inúmeras decepções; estava, portanto, com medo de se apaixonar novamente.” (forma correta: ponto e vírgula separando as orações e duas vírgulas destacando, mais ainda, a conjunção deslocada)
4) Durante algumas explicações, vi a oração: "Tome cuidado, para não machucar as crianças" e fiquei com dúvida sobre a vírgula antes do “para”. Poderia me explicar por que ela ocorre, por favor?
É um caso de uso facultativo da vírgula.
Como a oração reduzida de infinitivo, iniciada pela preposição “para”, é uma adverbial que dá ideia de finalidade e está depois da oração principal, o uso da vírgula é facultativo.
Se viesse antes ou no meio, sua separação por vírgula seria obrigatória:
a) "Para não machucar as crianças, tome cuidado. "
b) "As pessoas mais velhas, para não machucar as crianças, devem tomar cuidado."
Vindo depois da oração principal e usando a vírgula, consegue-se, além da finalidade, passar uma noção secundária de explicação.
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